domingo, 29 de abril de 2012

O que lhe pertuba

São três conhecidos, cuja relação beira o exótico. Você se apaixona pela mulher do trio. Paixão talvez seja um termo forte demais para uma atração que se baseia no físico e no desconhecido. Sentimento esse que te leva a atravessar um bairro inteiro (digamos, 6 quadras) para estar com essa garota. Mesmo que seja por um momento, sentado na praia, observando, digamos, um clube cheio de pessoas, e reclamando sobre a vida simples e glamurosa que essas almas têm.

O estar na companhia certa lhe produz uma sensação agradável. Você percebe que está no lugar certo, mesmo que seja compartilhando esse momento com um dos outros conhecidos; e na hora certa, ainda que a sede lhe tome os lábios e a garganta enquanto permanece deitado.

Então...
Talvez fosse melhor parar aqui e acordar de um sonho minimamente curioso.
Mas a vida não é feita de momentos perfeitos. E, aparentemente, nem o sonho é.

Então ocorre o oculto. O exótico. O trio se refaz e resolve pôr em prática uma atividade fora do comum. A sua presença não é mais bem-vinda, mas também não lhe é posto para se retirar. Você permanece. Tensão no ar.

O homem que se encontrava ausente na praia inicia um ritual de sofrimento. A imagem se torna turva. A amada se ajoelha e recita uma espécie de mantra. Tudo aquilo te deixa inquieto, mal. O ritual continua e, mesmo sem enxergar, aquele sofrimento te parece maior. Parte daquele homem está se esvaindo. Esvaziando.

O terceiro homem, o da companhia não querida na praia, desaparece.

Depois de muita aflição. O ritual e a reza terminam.
Os dois presentes se aproximam para se abraçar. E a sua paixão, que já perdeu esse título, abre não dois, mas intermináveis números de braços para esse momento esperado. Entretanto, o abraço não se concretiza. Aquele que sofria não está mais entre nós. Desaparece antes de ser tocado. Berros. Horror. Como se tudo tivesse sido em vão. A mulher não acredita, se desespera. E você continua inexplicavelmente parado, analisando o que sucede.

A imagem volta. Você continua na praia. O sol se põe e a amada continua ali, digna de sua condição: bonita, sensual, olhando para você, como estivesse pedindo para ser dominada e levada até o mais profundo prazer humano.

Subitamente, você acorda. Com uma estranha sensação de que aquelas vozes eram reais. Ainda que não se lembrasse de nenhum diálogo.

Qual o seu diagnóstico, doutor?



Nenhum comentário:

Postar um comentário